quinta-feira, 22 de maio de 2014

Contação de História

Contação de História  


Para cada idade


Dicas para escolher narrativas adequadas à fase do desenvolvimento dos seus alunos


Contar histórias é atividade de rotina em creches e escolas de Educação Infantil. Apesar disso, há sempre a dúvida: como escolher a história certa para cada faixa etária? A resposta para essa pergunta pode variar bastante, de acordo com as características de cada turma, do grau de estimulação, do hábito de ouvir história, dos assuntos que despertam mais interesse entre outros fatores. A escritora Betty Coelho* dividiu as fases de interesse dos alunos da Educação Infantil em Fase Pré-mágica, que compreende o período dos 0 aos 3 anos, e Fase Mágica, dos 3 aos 7 anos. Essas informações podem ajudar no seu trabalho diário e na escolha das narrativas. Veja mais a seguir.
Fase Pré-mágica - de 0 a 3 anos
As histórias devem conter enredos simples, vivos e atraentes, contendo questões que se aproximem o máximo possível da vida das crianças, de sua afetividade, seus brinquedos e dos animais que conhecem. Nesta fase são indicadas histórias de bichinhos, brinquedos, objetos e seres da natureza, sempre humanizados, além de histórias que tenham crianças como protagonistas. Um exemplo é "A Bela e a Fera", na qual castiçais e relógios têm vidas próprias. O conto mínimo ou parlendas são também boas opções de texto para trabalhar com essa faixa etária.
Fase Mágica - de 3 a cerca de 7 anos
Nesta fase, os enredos podem trazer mais elementos, ou seja, são mais elaborados. É a fase do "conte outra vez", em que as crianças solicitam que uma mesma história seja contada repetidas vezes, para que possam apreciar com mais calma cada detalhe da narrativa. Nesse período são indicadas histórias de repetição ou acumulativas, como "O Macaco e o Rabo", trazida a seguir. Também são boas opções histórias de fadas, de crianças, de animais e contos de encantamento. O importante é amplie os enredos gradativamente, partindo de histórias mais curtas para as mais longas.
Conto mínimo
São parlendas que transformamos em histórias de acordo com a forma de contar. Aqui vai um para vocês brincarem com seus pequenos.
Era uma vez três dois polacos e um francês que certo dia, por causa de uma embriaguês, foram os três parar no xadrez. Quer que eu conte outra vez? Era uma vez três...
O Macaco e o Rabo
Versão de Robson A. Santos

Estava o macaco na beira da estrada e não percebeu que seu rabo a atravessava. Vinha um carro de bois e passou por cima do rabo dele, cortando-o fora. Um gato que estava escondido atrás da moita pulou e pegou o rabo do macaco. O macaco gritou para o gato:
_ Me dá o meu rabo, gato danado.
_ Só te dou se você me der leite.
_ E de onde tiro o leite?
_ Vá pedir pra vaca.
O macaco foi até a vaca e pediu:
_ Vaca, me dá um pouco de leite para eu dar ao gato que vai devolver meu rabo.
_ Eu não! - disse a vaca - Só se você me der capim.
_ E onde eu consigo capim?
_ É só pedir para a velha que mora naquela casa.
E lá se foi o macaco.
_ Velha, dá capim para eu dar à vaca, para ela me dar leite, para eu dar ao gato que vai devolver meu rabo?
_ Não dou! - disse a velha - Só se você me der sapatos.
_ E onde consigo sapatos?
_ Vá pedir ao sapateiro.
E lá se foi o macaco até o sapateiro.
_ Sapateiro, me dá sapatos para eu dar à velha, para ela me dar capim, para eu dar à vaca, para ela me dar leite, para eu dar ao gato, para ele devolver meu rabo?
_ Eu não! - disse o sapateiro - Só se você me der couro.
_ E onde consigo couro?
_ Pede ao porco que está no chiqueiro.
E lá se foi o macaco ao chiqueiro.
_ Porco, me dá couro, para eu dar ao sapateiro, que vai me dar sapatos, para eu dar à velha, para ela me dar capim, para eu dar à vaca, para ela me dar leite, para eu dar ao gato, para ele devolver meu rabo.
_ Não te dou couro! - respondeu o porco - Só se você me der a chuva.
_ Chuva? E de onde tiro isso?
_ Pede para a nuvem, ora essa! - disse o porco.
E o macaco pediu à nuvem.
_ Nuvens, me deem chuva, para eu dar ao porco, para ele me dar o couro, para eu dar ao sapateiro, que vai me dar sapatos, para eu dar à velha, para ela me dar capim, para eu dar à vaca, para ela me dar leite, para eu dar ao gato, para ele devolver meu rabo.
_ Eu não! - disse a nuvem - Só se você me der o fogo.
_ Fogo? E onde consigo isso?
_ Pede para as pedras.
E lá se foi o macaco falar com as pedras.
_ Pedras, me deem fogo, para eu dar à nuvem, para ela me dar chuva, para eu dar ao porco, para ele me dar o couro, para eu dar ao sapateiro, que vai me dar sapatos, para eu dar à velha, para ela me dar capim, para eu dar à vaca, para ela me dar leite, para eu dar ao gato, para ele devolver meu rabo.
As pedras começaram a bater umas nas outras e fizeram faíscas, que viraram fogo. O macaco levou o fogo para a nuvem, que lhe deu a chuva, que ele deu ao porco, que lhe deu o couro, que ele deu ao sapateiro, que lhe deus os sapatos, que ele deu para a velha, que lhe deu o capim, que ele deu para a vaca, que lhe deu o leite, que ele deu ao gato, que lhe devolveu o rabo. Mas quando ele pegou seu rabo de volta... nem quis mais pois tanto tempo se passou que o rabo estava podre.
*Robson A. Santos é mestre em Educação, Arte e História da Cultura, Educador Brincante, pedagogo, folclorista, escritor e contador de histórias. Contatos: professorrobson@uol.com.br

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